Horizonte de Palavras

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Tolerância e respeito jogam no mesmo time

Contra a violência, torcedores superam rivalidade

Érica Teles

Futebol é paixão brasileira, mas a manifestação pacífica está cada vez mais rara. Os casos de violência envolvendo torcedores estão cada vez mais comuns, no entanto, por amor ao esporte, algumas pessoas conseguem superar a rivalidade entre seus times. Em tempos de final de campeonato, o carinho pelo clube aumenta e em alguns casos, não dá espaço ao desrespeito nem à violência. Eles torcem pelo mesmo time, o da tolerância.

Rivalidade é deixada de lado por amor ao futebol

 Vasco e Flamengo, Corinthians e Palmeiras, Gama e Brasiliense. Grandes rivais dentro de campo podem ter uma convivência pacífica fora. A rivalidade deve ser algo saudável, como defende um torcedor do Palmeiras, o auxiliar administrativo Antonio Henrique Rodrigues Braga, 22 anos. “Eu acho que é uma questão de gosto, assim como brigar por música ou por partido político. A briga não irá fazer com que você mude de time”, afirma.

A opinião de Henrique não é isolada. Os que acreditam no verdadeiro espírito do futebol, que é unir as pessoas em torno de um mesmo objetivo, defendem a paz e o respeito ao próximo, independente da camisa que vestem. As diferenças são relevadas e a briga se restringe ao gramado.

Vascaíno desde criança, o promotor comercial Alex Sandro dos Santos, 27, defende que as pessoas têm que se respeitar, aceitando a escolha de time de cada um. “Tento levar na brincadeira, não tem outro jeito. Rivalidade é rivalidade”, relata Alex. “A melhor forma é levar na esportiva”.

A psicóloga do Programa da Mulher Atleta, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Mariana Mendes de Moura Oliveira, explica que superação da rivalidade depende da situação. Amigos, por exemplo, podem se respeitar melhor como torcedores rivais. “Se for uma amizade antiga entre garotos, é provável que o assunto futebol não seja pauta de qualquer conversa”, afirma. 

A especialista confirma que se o objetivo for o mesmo, o amor ao esporte é capaz de deixar de lado a rivalidade. “Alguns blogs são escritos por torcedores de times rivais, mas antes disso são amigos que preferem divulgar informações sobre o esporte do que apenas “brigar” por seu time”, conclui.

Torcida da paz

O estudante torcedor do São Paulo, Victor Matheus Correia, 20, acha que atitudes pacíficas dentro do futebol estão ficando cada vez mais raras. Para ele, é difícil dar o braço a torcer e dizer que o rival é melhor. “É questão de orgulho e de cultura também”, declara. Victor defende que para mudar a situação seria preciso uma transformação na atitude dos torcedores. “Precisaria haver uma mudança na forma como o brasileiro enxerga a rivalidade e o futebol”, explica.

O universitário Pedro Ventura Patrocínio, 22, torcedor do Gama, se diz amante do futebol e explica que supera a rivalidade fora do gramado. “Já xinguei o jogador dentro de campo, e na mesma noite confraternizamos na casa de um amigo. Esse mesmo jogador é namorado de uma amiga minha, na qual sua família é gamense roxa”, relata. Pedro defende que é preciso conscientizar os torcedores. “Estimulo as pessoas que freqüentam os estádios que a única a sofrer com a violência deve ser a bola, com os chutes dos jogadores”, brinca.

“Todo ser humano é movido pela emoção, e essa paixão do povo brasileiro pelo futebol acaba acarretando uma explosão de sentimentos”

O diretor da torcida do Flamengo na capital, Raça Rubro Negra de Brasília, Danielton Lima, afirma que é cobrada dos torcedores uma atitude positiva e contra a violência. “Cobramos sim postura dos nossos integrantes, e sempre procuramos conscientizá-los que o futebol é festa, e que a existência de uma torcida organizada é apenas uma: apoiar o clube onde é que ele esteja”, declara. “Todo ser humano é movido pela emoção, e essa paixão do povo brasileiro pelo futebol acaba acarretando uma explosão de sentimentos[…] mas não existe incentivo pela intolerância, e sim trabalhos sérios desenvolvidos por diretorias de várias torcidas organizadas”, esclarece.

23/05/2011 Posted by | Na Imprensa | , , , , , | Deixe um comentário